quarta-feira, 11 de junho de 2014

Hoje é um dia, um silêncio...

Hoje exatamente, eu quase posso encher minha mente com o meu vazio;
Posso sentir a fraca força de minhas pálpebras,
posso sentir minha dor amortecer falsamente.

Deslizam no meu íntimo lágrimas que se exaurem de meus olhos.

Hoje é um dia que aquele ombro me fez falta, deveras muita falta...

Não gostaria de bisar minhas angústias;
Não queria sentir mais essa, ou, qualquer ansiedade que me torna morta...
Morta para os cabíveis planos, gélida para a concordância dos fatos.

... De fato...
Hoje principiei o que  em mim é dor, porém não facilmente explicável...
Num quarto escuro, meu quarto é um terço de tristeza...



Lorena C.S.S
escrito em 06 de março de 2011
pensar-seasi-mesmo.blogspot.com





terça-feira, 1 de abril de 2014


Mara;
É rara





Dentre um riso e um bolo, lá se vai uma conversa afável.
Dentre um abraço e um piscar dos olhos, lá se vai o tempo ganho com tua companhia.
Pudera, veja só, imagino  que Deus criou teus olhos enquanto admirava o céu,
Imagino que tuas mãos tem favos de mel.

Como podem seus olhos dizerem tanto, quando pouco posso falar?
Como pode um ser se embrulhar na arte que é o amor,  se permitindo sangrar, se ocultar, silenciar?

Teus bolos são doces d'alma, são doces do coração.
... É uma maravilha... 
Pudera, veja só, Deus tocou dentro d'alma de teus pais para que estes escolhessem tua graça...
Quão raros podemos ser?

Tudo de formidável deveria levar de graça a tua graça... Mara!



Autora: Lorena.C.S

sábado, 15 de março de 2014

O cara do carro pipa





É como estar em coma.
Não sei bem explicar o que se passava em minha cabeça quando pensei nisso. Moro com uma família, mas o mais estranho é que ela seja minha...
Tenho vertigens e o pior de tudo é que mal posso sentir meu corpo. Bizarro, estava eu lá, deitado, quase que sonolento, ou melhor, eu estava completamente lento, e ouvi uma voz, me chamava, e me chamava.

Que falta de sorte ser interrompido, eu estava em puro êxtase de uma quimera. Levantei e fui ver o meu formidável atropelador de trégua, e veja só... Que maravilha... Plantado lá no portão um ser que posso chamar de cidadão, apenas por que paga seus impostos, Zé Otávio, o cara do carro pipa, o “mané” que dizia que aquela água era “potável”, ou seja, para o Otávio, ( como ele é engraçado, 'uau').

Talvez eu o tratasse de maneira indiferente, porque minha irmã insistia respirar e transpirar por ele, “adolescentada” sem boa aspiração. Tenho uma curiosidade sobre ele; por que o indivíduo anda como se quisesse,  chamar atenção da moçada e depois ás deixar convictas de que jamais o possuiria?
A minha linda e inteligente irmã (assim a chamo, pois ela passa o batom e o resto da maquiagem sem borrar!) diz que o vento balouça os cabelos dele e deixa no ar um cheiro de gaveta!... Ao menos ela sabe usar boas metáforas.

Para fim de conversa, pois por um motivo torpe  terei que continuar outra; Fui até o magnífico homem  do carro pipa, e o adventício é que ele sabia o meu nome , (me pergunte como, e eu vou responder que com certeza não sei onde ele ouviu minha graça, talvez porque eu seja o famoso menino que vive trancado, “o antissocial”).

 - Pois então...
 - Oi jovem

Nossa... Como ele é velho! Dá para ver que está de frauda geriátrica, nem eu sabia que o governo aposentava por idade um homem de 26 anos, assim suponho. “Otávio o otário, mal pôde me conhecer e já veio me chamando de “pivete” ou” fedelho “...
“(...) Oi jovem (…).”

 - Em que posso ajudar? (sempre fui muito educado),
 - A sua mãe está?
 - Não... (eu queria dizer: “Não é de sua importância”)
 - Eu posso falar com sua irmã?
  … Legal, o cara além de desprovido de simpatia, ainda é pedófilo.

 - O que você quer com ela?
 - Entregar um livro,
 - Que livro?
 - O lobo da estepe. Conhece?

O cara me pareceu de pedra, de pó e de pés no chão. De fato o nosso criador criou uma boa criatura?

 - Ah...
 - Pode entregá-lo a ela? Visto que sua mãe não está, acho nada seguro que me deixe entrar.
 - Certo. Deixe que o entrego! (disse isso com os dentes quase que serrados...)

       Para falar a verdade, ás vezes minto; será que tenho paz ou impaciência?
 Devo dizer que minha sociedade são restos de papel, e por isso aquele sujeito complicado não fora de bom grado para mim, um sujeito simples, simples como restos de papéis reciclados...
Aquela menina doida, menina travessa, menina do balaio; disse querer  ler aquele livro só para tocar no alfarrábio que o cara tocara. Ela não o leu, mas eu li.

Um tempo depois...


–          Oi... Sabe me dizer se ela está gostando do livro?
–          A, sim, claro, amou… Achou bonita a capa e bom o cheiro que lá estava.
–          Cheiro?
–          É, mas isso não vem ao caso;
–          Tudo bem, só espero que você continue a fazer uma boa leitura – Disse o cara -
–          Ah sim... Obrigado! (hã? Como assim, eu não disse a ele que era eu quem estava lendo o livro! )
–          Não te disse que eu estou lendo o livro!
–          Certo! Mas é evidente que este livro não instigara sua jovem irmã, por outro lado, você me parece disposto, uma contradição, uma tentativa do meu oposto. Parece amar desafios, como pular da pedra mais alta...
Meu caro cachorro do mato, eu sei o quanto encherá teus olhos essa leitura!

Antes de sair pausou teu ar e disse ao garoto: “Donde saiu tamanha ironia cáustica?”
 E foi embora, embora o garoto quisesse que o sujeito não partisse...

–          Pronto... ( pensou o jovem) não sei bem ao certo o que ele quis dizer com toda sua filosofia... Mas sei que mudei meu conceito, mudei? Não venha você, barato leitor, a achar que estou sentindo prazer pelos cabelos voadores dele e o falso cheiro de gaveta que nele exala, aliás, será que ele tem cheiro de gaveta porque ele guarda a roupa debaixo da cama?...

  … Voltei para meu quarto e continuei a ler o livro que jurei que nunca iria acabar; claro, acabaria no dia que o rapaz do carro pipa viesse de mim o cobrar...


Lorena. C. S - SP- Barueri

27/07/2011


sábado, 1 de março de 2014

Rosas...

-Por que arrancastes as rosas?
-Para te dar, meu amor!
-Por que achas que me agrado disto? Vendo-a assim longe de seu amado solo, pareço secar, murchar...
-Me diga  linda, por qual motivo dói tanto que eu lhes entregue esse buquê?
-Se me arrancassem de você, eu sofreia, eu murcharia; se arrancam a flor do solo, ela sofre, ela mucha... Donde há poesia nisto? Acreditas em poesia viva?
- Sim, pequena rosa.
- E na poesia morta?
- Sim
- O poeta fica triste quando seu campo perde suas flores, quando suas flores perdem sua pétalas, e o que se pode fazer duma rosa sem solo, desolada?  Devemos lançar aos mortos, por que elas morreram também...
- O que poço fazer para corrigir isso?
- Me traga o solo, me traga a terra e tu  verás eu plantar a poesia...



  "{...Como um elo das almas, 
Passais do seio amante ao seio amante; 
          Lá bate a hora infausta 
Em que é força morrer; as folhas lindas 
Perdem o viço da manhã primeira, 
          As graças e o perfume. 
Rosas que sois então? – Restos perdidos, 
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha 
Brisa do inverno ou mão indiferente. 

          Tal é o vosso destino, 

          Ó filhas da natureza; 
          Em que vos pese à beleza, 
     Pereceis; 
          Mas, não... Se a mão de um poeta 
          Vos cultiva agora, ó rosas, 
          Mais vivas, mais jubilosas, 
                   Floresceis...}"

Machado de Assis, in 'Crisálidas'




quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


Ressaca


 Foi na chuva que molhei os lábios, foi na dúvida que sequei meus olhos cálidos.
Pudera num segredo atoa, tu assim, cantando, sussurrando teus grandes quimeras. 
Foi nos olhos de um  larápio de sonhos que tu sucumbiu-se.
Foram nos brilhos daqueles olhos de ressaca que tu embriagou-se
Foi tu se entregar por perfídia.
Para tanto tua vida pegou fogo, só sobrara cinzas daquela biblioteca de luxo em demasia - pompa.
Mas eu sei que na ressaca daqueles olhos, sobrara tua alma que fora cuspida e a isso tu achastes favor!

Autora: Lorena.C.S


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Po'ca'fé




Ô menina, acho que te casamos conosco...

Que delícia, agora, neste instante subiu até mim 

um aroma... Aquele de cafezinho pronto na hora... 

Saudade do meu leite, tenho chorado café;

 'ca' fé que tenho carregado no peito,padeço dentro d'eu
 Tenho sido pessoa de 'Pô café', tenho sido pessoa de pouca fé... 
Parece que meu café é temperado com sal quando tu se esvai de mim...

Tenho sofrido a falta sua, tenho  tido 
exatamente nada, pois teus abraços me 
fugiram como fumaça.

Pra Tu não importa se sou torta,nem se tenho medo do escuro,
Nem se olho debaixo da cama para poder deitar na paz,
De fato o meu tormento me abriga,meu medo é minha briga, tu meu leite,meu deleite.

 Tenho poucos acervos de qualidade, 
não importa a felicidade dos fracos, me contento com a 
poesia, pois me entrego, me embriago.
Pudera! 
Queria você de volta Leite de meu leito escuro...





Lorena.C.S.S 23:27 25/08/2013

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Reticências de Deumina

Deu mel na boca, minha diva Deumina!




-"Desça já daí menino!"
Recordo-me bem de como Deumina me gritava, lá de cima do morro. Ela era tão chatinha, vivia se ofendendo com tudo que eu lhes dizia.
-"Deixe de ser casmurro seu moleque!"
Pois é, ela dizia isso com uma face nada agradável, devo dizer que era engraçada. O que ela era minha!?, Ela era a filha da minha babá, uma mulher grande e muito bonita, é, tinha fartos seios... Amava quando minha babá corria para me secar o queixo quando eu começava a babar, era inédito cada sorriso que ela dava, e cada catota retirada do meu lindo nariz de branco, não era igual o daquela negrinha chata e dentuça.
Por fim, quando crescemos minha babá foi embora, embora eu quisesse que ela ficasse, sim, eu queria me casar com ela. Ela ria-se de minha palavras:
- Que isso menino, te vi bebê e troquei tuas fraudas, veja só, até a Deumina está moça; vamos, procure meninas de tua idade para paquerar, e vê se deixa de deboche menino buliçoso!
Caramba, eu estava com treze anos, já era um homem... Um pequeno homem... Eu era... Ta legal eu era sim um fedelho!
Quando completei dezoito anos, fui-me embora para longe do mato, fui morar numa cidade linda e grande com um tio, irmão do meu pai, passei o resto de meus quatro anos a estudar, numa universidade particular,me formei em engenharia química, que diga-se de passagem: Era laborioso!
Aos meus vinte e seis anos, resolvi voltar para minha antiga cidade, como férias, claro! Eu estava trabalhando e havia acabado de assinar minhas férias de dois meses, afinal eu era o gerente da empresa a qual trabalhava.
Fui então ao descanso, larguei namorada, amigos, cliente, carro, moto, tudo... Eu queria simplesmente FÉRIAS!
Cheguei na pequena cidade de surpresa, quase matei meus velhos de tanta alegria, e meu pai com um rosto bem plácido disse:
-Óia, vortou o fio pródigo!
Minha mãe com um ar nostálgico me abraçou e disse:
-Hora essa homem , pare de deboche e venha já abraçar teu fio!!!
Mamãe e papai tinham um sotaque bem interior, trabalharam muito para fazer d'um mercadinho um mercadão, e assim o fizeram. Meus pais eram donos de um dos maiores mercados da cidade, mas eram simples e humildes de doer a espinha...
Corri para tomar um banho, comer e depois andar pela fazenda matando a saudade de tudo e todos, e me lembrei de Ofélia, minha babá, perguntei:
- Ué pai, como está Ofélia, aquela minha babá?
- Ah sim meu filho, ela se casou e mergulhou a cara no mundo a fora com o marido, sei da sujeita mais não, mas a fia dela ficou aí com a vó, não quis ir de jeito nenhum...
- Pena, não poderei vê-la.
-Mas pode ver a Deumina, se ver vai encher os zóios... Ela está muito bonita, jeitosa que só ela.
- Acredito...
Me virei e dei um sorriso maldoso e pensei:"Deve ter ficado tão feia que a mãe morreu de vergonha de levar para outro estado, além de o mais ela sempre foi muito burrinha e chatinha, eca!"
O sol foi dormir e eu junto no horário dele,me levantei no dia seguinte com o galo, aquele velho galo, que devia está aposentado, mas é tinhoso o danado, quer trabalhar até a morte, não abandona o meu velho pai.
Pensei, vou tomar meu café e andar fazenda a fora, mas quando sai do quarto lá estavam na sala dona Soninha, tia de Ferdinandinho, irmão de Paulícia que tinha dez filhos com João, que já tinha sido viúvo, também estavam, Joaninha, a doceira do bairro que me viu nascer, dona Rostânea, a parteira que trouxera minha mãe ao mundo -" A parteira estava tão velha que quase estava partindo para o abraço com Deus-",senhora Odilíza, esposa do seu Matusalém o homem mais velho da cidade, lá estava no cantinho da sala também Juraciara, uma amiga da minha mãe dos tempos da escolinha no barraco de palha.
Sim, estavam todas lá na fazenda querendo ver o filho mais bem sucedido e bonito da cidade,EU, euzinho aqui, em músculo carne, pele e belos membros... As velhinhas me beijaram, apertaram minhas bochechas, teve até uma que me beliscou o traseiro, fizeram perguntas,queriam saber se eu estava namorando ou casado porque queriam me apresentar vossas filhas e sobrinhas, diz aí: Quem merece isso?

Socorro! Perdi meu dia, tive que tomar chazinho com aquelas velhinhas assanhadas e quando vi o sol estava indo dormir de novo, e fui me deitar pensando numa coisa:
- {"... Deumina... Será que ela sabe que eu cheguei aqui na cidade?... Se sabe, é estranho que não tenha vindo me ver, afinal fomos " amigos" na infância, aaa, mas quem se incomoda? Deve não ter vindo por medo de expor sua horrenda face..."}
Acordei no dia seguinte no silêncio d'uma tristeza; piucó havia morrido, aquele galo cujo despertador eu havia citado morrera naquela noite.
Sai para praticar um dos esportes que eu e a Deumina mais gostávamos, Jogar pedrinhas no rio para ver as ondas que criavam, ou cassar sapos, talvez quem sabe...
Pedi a um dos empregados que selasse para mim um dos melhores cavalos, eu queria cavalgar, me trouxera então Dochão, era chamado assim por que quando era filhote, não saia do chão... Vivia a cair, mas agora é o cavalo mais forte daquele paraíso.

Á caminho, na estrada, notei o quanto as estradas de barro em nada havia mudado, ao longe eu pude observar uma casinha ou outra, um cercado ou outro dedurando existir dono da modesta e pequena terra. Quanta beleza para um povo só, quanta fartura, é plantio para todo lado; mas... Espere! ... de longe vi uma coisa linda, que linda é aquela coisa... Passei por perto e bem devagar para fitar bem a face daquela bela pessoa, linda mulher... Veja que linda criatura na janela com tecidos e agulhas nas mãos, ela, a criatura, linda, linda, cria e costura...
Ela me olhou e estranhou algo, mas não disse nada, apenas me olhou e sorriu, e que lindo eram os dentes dela, e os olhos...?
Voltei para casa, anestesiado... meu pai me viu daquele jeito e disse:
- Eita que alguém viu um passarinho branco...
E eu com os olhos congelados na graça que vi, respondi ao meu pai:
-Não senhor, eu vi foi um pássaro negro mesmo...
Ela era negra,cabelos encaracolados, olhos convidativos,lábios feitos romã,os dentes pareciam muros metricamente criados e pintados com os brilhos dos diamantes e tratados com o melhor flúor...
Fiz questão de que o sol se cansasse logo e fosse implorar pelos trabalhos da lua, para que eu pudesse sonhar com aquela criatura, que cria e costura. O dia nasceu com um pouquinho mais de alegria, acordei cedo pois piucó antes de morrer treinara rocó, seu filhos galo, para cantar todas as manhãs quando ele morresse. E assim começou meu dia, com rocó cantando,o cheiro de café e de pão fresco na mesa...
Minha mãe pediu para eu acompanhá-la até o postinho da cidade vizinha, e eu fui. No caminho perguntei de Deumina novamente, minha mãe disse:
- Ela está linda, cumprida e inteligente que só... ela é professora de costura, tem uma escolinha que abriu com a ajuda da avó e vive do lucro das aulas. Óia que ela tem futuro viu? Tem muitos alunos, e todos falam bem das aulas dela...
- Que bom, mamãe... Quero só ver se é tudo isso que falam mesmo.
-Me fala filho, você não está namorando?
-Sim mãe!
-E como ela é?
- Ela é bonita, inteligente...
Mas eu não quis falar muito dela, sei lá por quê, mas parece que naquele momento eu só queria falar de uma pessoa...Deumina...
- Mãe, chama Deumina lá em casa, quero ver aquela feiurinha...
Minha mãe sorriu como se quisesse dizer: Sei... feiurinha é?, tu vai é embestar quando ver ela...
Fomos para casa conversamos e fomos dormir, todos bem cansados do dia cheio que tivemos, mas antes, vi minha mãe a sorrir no telefone,e dizia: {"... Então tá bem, amanhã venha ainda cedo, te esperamos viu?..."}
"Te esperamos?" Ela e mais quem espera quem? Minha mãe está aprontando, hora essa!
Amanheceu o dia e me levantei, estralei os dedos e o pescoço, procurei os chinelos com os olhos ainda fechados, vesti meu casaco e fui para o banheiro. Tomei um banho muito bom, me olhei no espelho e vi um rapaz lindo e bom partidão.
Desci para a sala e quando cheguei no último degrau ouvi uma voz doce de dar diabetes, e macia de causar paz... Fui seduzido até a sala, onde estava a dona da voz.
Caro leitor veja o que aconteceu a mim no exato momento em que adentrei a sala:
-O...o o... hum...ooo...Oi, Tu-tu-tu-tuuudo bem?
Que mico, gaguejei muitíssimo. Era ela, a moça da janela,a dos lábios de romã.!
- Oi, não está lembrado de mim?
Sinceramente não, eu não lembrava de ter vivido perto d'uma criatura tão linda.
- É... Não, não me lembro, desculpa
- Ah seu bobo, sou eu... Deumina!
Aquele nome parecia me sair assim:
"... DE- U - MI - Naaaaaa...'
Em câmera lenta. Para piorar, eu fiquei com uma cara de tacho, fiquei pasmo, oco...
- E agora você lembra?...
- Caramba, como você está, está... Diferente... Eu não a reconheci Deumina...
E conversamos o dia inteiro, e combinamos de sairmos no dia seguinte, tínhamos muito a contar um para o outro, e eu estava muito empolgado. No momento em que ela se despediu eu pensei: {" Deumina, deu mel na boca... Deumina, deu mina de ouro na fazenda de meu pai..."}.
Na manhã seguinte,Deumina me esperou, encostada numa árvore de nome Copaíba, a árvore era linda, linda como Deumina. A moça de bela cor e lábios escarlates se destacara-se na paisagem pintada por Deus, ela usava um vestidinho florido, um palmo abaixo dos joelhos, marcava a cintura dela com um laço atraente,não usava decotes nem era cavada a alça de seu vestidinho, mas me lembro bem que era imensamente sedutor; sim, sedutor...
Engana-se tu honorável leitor que achas que por eu ser um homem da cidade, aprecio vestes ousadas, sem decência, sem modéstia. Por cobrir aquelas belas curvas é que me senti instigado,e por esconder tua pele é que tive a oportunidade de olhar a única coisa que nela mais se realçava... Os olhos... E que olhos eram aqueles?
Então... Quando me aproximei dela a ouvi dizer:
– Filipe... Teu modo de caminhar não mudara, andas assim... Como um galo que declara posição.
E riu-se num tom leve e contagiante...
– Mas teus olhos parecem outros...
Ela era tão ingênua, parecia não ter entendido que antes eu a olhava como um menino que queria distância da menina chata e magrela, e que agora eu a olhara como um homem que queria tornar-se mais achegado daquela mulher linda, cheia de trejeitos apaixonantes.
– Poxa vida, quando você foi-se embora era tão mancebo, nem tinha peso direito, lembro bem quando dizia aos cinco anos para mim:
{“... Óie só sinhá magrela, num vejo a hora que vou virar gente crescida e vou-me embora para a cidade, e aí então não vou ver mais essa sua cara feia e dentuça, sua chata...”}
– Pare de pensar nessas coisas Deumina, eu dizia sem pensar direito, eu era muito pequeno e você também não me deixava em paz... Mas me desculpe por tudo que te causei... como exemplo, aquela vez que botei fogo nos seus cabelos... hahaha, foi realmente hilário, mas muito maldoso também.
– Eu me recordo bem sim,mas lembra da vez que eu fiz você engolir a perna de um sapo?, Também foi engraçado, e uma brincadeira de muito már gosto...
E assim passamos o dia todo, lembrando do passado e rindo-se dele, e devo confessar:
… Quanta maldade eu fiz para aquela pobre menina dentuça...
Durante a conversa, pude notar que ela não tinha um sotaque muito forte, poucas palavras ela dizia com uma puxadinha meio jeca, mas quando as dizia, eu ficava encantado.
Caindo o dia resolvemos voltar para nossas casas, minha mãe me indagou assim que cheguei:
– E aí, como foi lá com a Deumininha?
Eu olhei com um semblante nada confortável e preferi me calar, afinal sem bem o que minha velha queria, ela queria que eu dissesse que amei o passeio e que ela tinha razão ao dizer que a moça é linda e inteligente... Mas mamãe não sossegou e perguntou de novo, só que agora de um jeito meio cômico...
– Ei calango, tu num vai dizer pra tua mãe como foi lá com a rapariga não? Óia que eu te conheço galeguim, e não venha me dizer que tu não gostou da Deumina, tu não me engana...
– Está bem mãe, eu te conto como foi...
A interrompi antes que ela continuasse com a palestra...
– Foi muito bom, relembramos do passado e rimos muito. Pronto só isso!
– Nem vem, eu sei que tem mais...
– Não mãe! O que queria que fizéssemos? Mal nos vimos, o máximo que podíamos fazer era relembrar o passado...
– Ai como vocês jovens de hoje são moles, seus bananas!
Acredita nisso? Minha mãe queria que eu dissesse o quê? Ora essa, esses povo parece doido, até parece que eu me interessaria por uma caipira...
– Mãe vou dormir, boa noite.
– Boa noite meu filho... ah, mas antes de ir me fala uma coisinha. Quantos anos ela tem mesmo?
– Sei lá mãe, acho que a mesma idade que eu, ou mais velha, sei lá...
– E mais uma coisa...
– Fala dona curi curi.
– Ocês vão sair amanhã também?
– Mãe !!! Pare com isso...
– Vão sair ou num vão?
– Vamos ver, talvez quem sabe...
Aí comecei a dizer com uma certa empolgação, quase que me sentando de novo:
– Combinamos de irmos na fazenda A última bota, matar a saudade das árvores de lá e dos pés de manga...
– Mas lá é muito longe...
– Sim, íamos para lá sempre que queríamos comer boa manga... E fingir que éramos donos duma casinha branca que tinha, ou tem, lá.
Minha mãe riu e disse:
– Ó meu fi, se ocê não tivesse me dito que nunca sentiria nada por ela, eu diria que já está apaixonado, dá para ver pelo brilho de teus zóios. Enfezei-me e fui-me deitar... Mas no fundo eu estava rindo muito das bobagens de dona Serafina, minha mãe.
Levantei-me no dia seguinte ás cinco horas da manhã, meu pai me chamara para pescar e passar aquela bela tarde ao lado dele, e eu fui... Caramba ! Dileto leitor; acabo de cometer um erro miserável... Esqueci de algo que me fizera passar a noite anterior completa ansioso; lembra? Pois é, me esqueci do passeio que eu prometi a Deumina que faríamos naquela tarde. Mas como eu iria negar o pedido de meu pai?
Meu pai percebeu minha aflição e perguntou:
– Ma que tu tem fiapo de gente?
– Nada pai...
– Vamos desembuche! Conheço essa cara, o que te deu errado?
Eu não queria dizer; o que eu diria? Diria que eu estava triste por que furei com o compromisso marcado com Deumina? Meu pai iria logo pensar várias coisas, as quais asseguro-lhe leitor de que não existem, de forma alguma!!!
Mas ele insistiu e eu tive de dizer algo:
– A pai é que pensei que logo acabam minhas férias e terei de ir, isso me pareceu triste e ruim, só isso...
– Calma meu fi, não te apoquente com coisas corriqueiras não, aproveite o momento e esqueça o que há de vir.
Ufa, pensei, meu pai aceitou a explicação... Mas do nada ele disse:
– E se tu quiser ir, pode ir, a pesca ta quase no fim, eu ageito tudo aqui, vá te encontrar com “feiurinha”, ela é paciente deve estar te esperando ainda...
– Como... como assim...?
– Vá e deixe de moleza, ande!!!
Dei um beijo na testa dele e voei, doido, tropeçando em tudo, chutei sem querer o balde de minhocas, ou melhor dizer, o balde de iscas; mas fui e quando cheguei lá...
Deumina estava sentada de frente a casinha branca, parecia triste e cansada, então resolvi fazer uma gracinha. Peguei uma flor e por trás a coloquei naqueles cachos compridos... Ela virou-se e vi teus olhos brilharem.
– Filipe, pensei que não viria!
– Me perdoe linda, eu tive que sair com meu pai...
Opa! Vocês viram? Não? A isso é piada! … eu a chamei de LINDA! E vocês não notaram?... tenho certeza que notaram sim, mas como pessoas simpáticas que são, deixaram isso queto, agradeço pela discrição prezado leitor.

– Entendo Filipe... mas é um tanto tarde, tenho que ir.
– Não! Por favor fique um pouco mais.
– Sinto muito, eu ficaria se não fosse já tão tarde.
– Eu a levo em casa, se permitires, claro!
– Agradeço sua delicadeza, mas pode ser perigoso você voltar tão tarde para casa e só.
E do nada começou a chover... Corremos para debaixo da copaíba, cuja árvore lhe fora citada no texto acima, mas não adiantou nada, então Deumina pegou em minha mão e correu em direção à casa branca. Assim que entramos eu disse uma gracinha:
– De, devíamos rebatizar essa casa de a casa queijo, porque ela está com muitos buracos, não acha?
Ela olhou para mim, e mesmo no ambiente escuro, pude fitar os olhos dela, que pareciam cristais, tinham um brilho incomum... Deumina deu um sorriso meio tímido e parou no tempo... Após me olhar e subitamente esconder-se por de trás de seus cachos, corou a face e disse:
– Você continua um bobo.
Ao que eu disse descaradamente:
– E você continua linda...
– Piada! Conta outra Filipe! Ora essa...
Mas que nega difícil, tentei ser... Ser... O que eu tentei ser? Não sei, só sei que desde que a vi, mesmo não sabendo que era a Deumina, passei a nada saber.
Eu realmente estraguei um momento que parecia romântico, mas poxa vida, ela não precisava ser tão brava! Mas ainda assim a noite não fora frustrada por inteiro.
Deumina era muito descente, ficava o tempo todo preocupada com o modo de sentar-se, parecia preocupar-se em não ficar tão próxima de mim. Tive a ligeira impressão de que ela jamais houvesse ficado sós com um rapaz, e por isso perguntei sem rodeios:
– Linda!...
Antes que eu prosseguisse ela disse:
– Pare de me chamar de um modo íntimo, não quero que pensem que temos algo...
E franziu o cenho, mas eu prossegui dizendo:
– DEUMINA... você nunca namorou?
– Mas como você é folgado Filipe! Pensa que só por que fomos “AMIGOS” na infância que você tem o direito de após anos longe, chegar aqui e me indagar coisas do tipo? É pelo visto você não mudara em nada, continua presunçoso, folgado e grosseiro. Sempre gostou de me apoquentar!
– Calma, me desculpe, eu não queria ofendê-la... Mudemos de assunto então. Me conte, como está sua mãe?
Deumina me olhou de um jeito meio indiferente e disse:
– Deve de estar bem, foi morar no Rio de Janeiro com um coroa rico e muito feio, parecia com sua pessoa...
O que eu fiz diante aquele comentário? Apenas ri e muito, a ponto de deixá-la sem graça e cair na gargalhada comigo. Depois ela olhou para mim e disse:
– Bom... Vamos parar de conversa vamos dormir, eu estou cansada.
– Sim, tudo bem. Mas onde vamos dormir?
– Venha comigo, vamos ver se há quartos aqui ou algum sofá...
Eu fiquei todo contente... Quando então...
– Achei! Venha ver Filipe...
– Uma cama !
– É, e uma poltrona também. Faz assim, eu durmo na cama e você na poltrona.
– Mas De, a poltrona vai me deixar todo quebrado...
– Então venha dormir na cama !
Fui todo, todo. Quando sentei na cama, ela sorriu, se levantou e simplesmente sentou-se na poltrona e fechou os olhos. Eu fiquei sem graça e bravo, mas sem que ela notasse. Poxa vida! Ela debochou da minha “cara”, fez que íamos dormir juntos, mas na hora... Ainda teve a cara de pau de abrir um olho só e dizer:
– Que foi? Não vai dormir não marmanjo?
– A'ff.. Esqueça... Sua gazela sem graça!!! Não quero dormir mais aqui na cama não.
– Uai. Pra quê tanta brabeza moço da cidade?
– Como você é irônica...
– Eu? Não fiz nada, só me lembro de ter dito que não dormiria na cama com você, afinal somos adultos, homem e mulher, sou uma moça de respeito, achou mesmo que eu iria dormir ao teu lado?
– Não viaja Deumina. Eu nunca iria querer dormir perto de você, sua crespa!
– Do quê você me chamou? Ora essa, seu esquisito, assombroso, seu... seu...
Levantei-me da cama e deitei-me no chão e ela pulou para cama, o clima estava denso, parecia que nunca conseguiríamos nos entender de fato. Passaram-se trinta minutos e ambos calados e sem sono, “Feiurinha mais linda” resolveu dar o primeiro passo na conversa por dizer:
– Filipe, por favor, deite-se na poltrona, ou ficará gripado deitando-se aí no chão.
Ela falou com tanta doçura que imediatamente me levantei e fui em direção ao pequeno e emburacado sofá. Então começamos a confabular de maneira gentil.
Conversamos, conversamos e começamos a abrir a boca lentamente como o de quem está convidando o sono. Por fim dormimos.
– “ Trinnnn, vumpá, vumpá!”.
Foi esse o barulho que as cortinas e janelas fizeram ao serem abertas pela linda moça que me fazia companhia naquela linda manhã.
– Vamos Filipe, levante-se seu preguiçoso! Vamos embora...
– Calma, linda!
– Calma nada, e não me chame de linda!
– Então tá. Calma feia...
– Feia... É sua...
Ela rangeu os dentes e serrou os punhos, parecia uma leoa procurando a quem devorar!
Fiquei com medo, muito medo de levar uns “tiriquipapos ”.
Antes dás nove da manhã já estávamos na fazenda. Deumina estava com um semblante descontente, acho que acabei magoando ela quando a chamei de feia, mas ela sabe que foi só de provocação.
Mamãe nos viu chegar e gritou meu pai:
– Francisco, venha ver quem chegou!
– Uai Serafina, tu acha que eu num sei...?
Antes de entrar eu a convidei para tomar café conosco, mas ela se recusou e foi-se embora, embora eu quisesse que ela ficasse. (Essa frase você já deve conhecer caro leitor).
Durante toda à tarde minha mãe me observava, mas nada perguntou, apenas disse:
– Acho que essas férias lhe trouxeram grandes novidades... Parece que teu coração não está tão inclinado para a moça da cidade grande não!
Eu apenas sorri suavemente e me retirei para o quintal. Sentei-me em direção à estrada que guiava meus olhos e pensamentos até Deumina... Pensei nela durante todo o dia e desejei vê-la nos dias seguintes, mas ela não apareceu.
Pedi a minha humilde mãe que ligasse para ela e a convidasse para nos visitar:

-Alô. Oi Deumina, estou lingando para te chamar para comer a rabada que vou fazer hoje, eu sei que você ama esse prato, venha por favor nos fazer uma visita.
– Sinto muito dona Serafina, mas ando muito atarefada com as aulas que irão iniciar, tenho muitas coisas para ajustar. Obrigada pelo convite mas não poderei ir, me desculpa.
– Tudo bem minha nega, deixe para uma próxima, mas você não me venha com desculpa viu? Tchau, beijo.
Fiquei tão triste, mas tive uma ideia...
– Mãe, volto mais tarde.
– Onde você vai menino?
– Vou dar uma volta.
– Sei... Juízo viu?
Sai então, sem juízo algum, tropeçado e levando tudo que tinha pela frente. Eu corria feito louco, quando lembrei de como foi que a vi pela primeira vez... Foi à galope que a vi, sim, ela estava linda... Dei meia volta e pedi que me trouxessem Dochão, e lá vinha ele, todo disposto, parecia saber que iria ao encontro de uma linda donzela. Fui...
Chegando na tão humilde casa de Senhorinha, a avó de Deumina, comecei a chamar pelo nome daquela cuja beleza e doçura,nunca havia provado antes, ao que de dentro da casa dona Senhorinha com um semblante meio assustador logo me indagou:
– O que quer com Deumina?
– Eu gostaria de falar com ela se for possível
– Óia menino, se tu correr, pode ser que alcance o trem que ela pegou.
– Trem?
– Ocê está surdin meu fio? Num uviu eu dizer trem, não? Má que trem de menino surdo...
Sai alvoroçado, preocupado e me perguntando o tempo todo:
... ”Por que Deumina foi embora? Está fugindo de quê ou de quem?...”
Quando cheguei na estação, o trem já havia saído, partiu maria fumaça.
Volte Maria e traga minha Deumina!
Ao que sem fôlego sentei-me em um banco próximo e de repente uma mão tão leve quanto uma pluma, pousou em meus ombros...



Lorena Santos. C. S
Oito de Fevereiro de 2012




terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

http://www.youtube.com/watch?v=RJQC1w0yRbk


     Apreciai, e vede que no fundo a ignorância é poesia crua...
     

Em amor, a morte deu, amor te deu
Em palavras mortas, meio que tropeçadas e enlaçadas,
A guerra pediu brecha para os sem olhos,
Para  os olhos e o breu..

Foi assim, sucedeu, faleceu e cedeu,
Se deu a dor dos ricos risos, se deu a cor dos riscos e mitos, 
Se deu, ignorante, se deu,
Se apagou, cegou e foi embora...

E a poesia do ignorante se fez um mar
Muito mar  valioso, abraça o rio e viaja para o longe,
donde os sábios vai achar...

Autora: Lorena.C.S.S


O CONTO...

A paisagem

Meia noite, madrugada de Onze de Dezembro de 1940, Milena Machado, filha de um coronel de uma cidadezinha situada na Bahia, terra boa, bonita de se ver; acabara de dar luz a um sol na cidade, sol este que não tinha pai, não tinha avô, não tinha avó, viera lançada ao mundo com força e sofrimento...

Milena tinha apenas 19 anos, quando se apaixonou por um seu moço, muito do jeitoso e cheio de lábia poética, chamado Edgar, ele tinha 25 anos, já era ganho na vida, mas era filho de um inimigo mortal do coronel Etílio Machado,pai de Milena. Numa tarde, quando o sol se pendurava no telhado azul de nosso mundo, Edgar saiu a galope, dizia que nada o deixava mais calmo que simplesmente enxergar cantos da pequena cidade através do turvo da poeira que subia quando seu cavalo passava de pressa, parecia que a qualquer instante voaria.
Nesta mesma tarde, Milena saíra para seu passeio como de hábito fazia todos os dias de sua vida, ela amava ver as flores, as árvores e se encantava com cada espécie pequena que lhes a parecia diante os olhos, dizia que nada a fazia mais feliz do que ver de olhos lúcidos o brilho da tarde e a paisagem limpa como um rio cristalino... Pois, ora essa;vejam bem; Não muito tarde, Milena, pela primeira vez queixou-se da aparência de sua paisagem, parecia empoeirada e turva, suas plantas pareciam esmagadas por um algo muito pesado e um tanto insensível. De longe a jovem pode avistar que um animal aparentemente selvagem, mas bem tratado, corria em círculos, parecia sentir prazer em toda aquela algazarra. Logo mais, Milena pode notar que o animal não estava sozinho, mas que tinha alguém montado no mesmo e que o guiava...

- Mas que absurdo! Quem poderia ser o animal montado naquele outro pobre irracional?!
Disse a jovem com um semblante nada agradável e parecia bem determinada a acabar com aquela falta de senso. Imediatamente, Milena aproximou-se e no mesmo instante Edgar pôde notar dentre a poeira que seu cavalo levantava, que surgia uma linda jovem de traços finos como a porcelana, aquele momento ele pareceu cegar-se com tamanha beleza.
- MOÇO! - Disse ela, num tom bravo e indignado...- Queira por gentileza descer deste animal e parar de pisotear minhas plantinhas!
- Senhorita, ao que devo tanto amor e delicadeza? – Disse o jovem rapaz, com um tom irônico-...
- Olha aqui seu petulante e... Desagradável senhor! O senhor está destruindo todas as flores por onde passa, sem contar nessa poeira horrorosa e desnecessária que está levantando.
- Primeiramente, prazer, eu me chamo Edgar, e vossa senhoria, donzela?
- Me chamo... Olha, não o interessa, definitivamente não terei tratos com um pândego, um tolo!
Edgar, apenas a admirava, achava graça de sua rispidez, mais uma vez tentou ele conversar amigavelmente com ela.
- Olha Senhorita, não tive intenção alguma de lhes exasperar, eu estava aqui me divertindo, me descontraindo, ao menos tinha lhes visto e se soubesse que minha descontração causaria tamanho desgosto, de fato não a teria feito, pode me perdoar?
Milena no coração disse: - Mas que rapaz educado e bonito, de onde será que é?
Ao passo que Edgar perguntou novamente: - Qual é o seu nome, donzela?
- Meu nome é... Bem... É... Milena
-Prazer Milena! Será que podemos caminhar juntos, assim eu não estragaria suas plantas e nem meu cavalo levantaria poeira e para ganhar o dia, eu e você conversaríamos, nos conheceríamos... Seria divertido, A final não tenho muitos amigos por aqui!
Milena disse com a face e os olhos baixos: - Eu também não... – E assim, foram, caminhando. No fim da tarde, se despediram, mas não combinaram nada, deixaram seus corações decidirem e se combinarem...

Milena continuou com sua rotina e todos os dias encontrava Edgar, quando notaram, um amor puro e forte havia sido criado entre ambos. Etílio começou a ficar desconfiado da empolgação e alegria de sua filha ao chegar em casa após as tardes de lazer.
- Ora essa! Minha Senhora, fique atenta a sua filha, Milena está muito estranha, tem chegado tarde de seus passeios ao campo e também parece estar com a cabeça fora do corpo, falo com ela e nem me ouve!
- Calma Meu senhor! Ela está numa fase de mudanças, nossa filha está se tornando uma mulher, é normal ficar assim com a cabeça na lua...
- Então acho que está na hora de casar ela! Vou procurar-lhes um moço de família e com excelentes condições financeiras... Irei á outra cidade, lá tem um jovem filho de um amigo meu, é bonito, forte, bem aplumado e o melhor ... Tem muito gado, terras, dinheiro...
Milena ouviu o que o pai acabara de dizer á sua mãe; ficou preocupada por que já tinha certeza do quanto amava Edgar e que Edgar também a amava... No dia seguinte saiu mais cedo de casa, ao chegar no campo, sentou-se numa pedra, aguardava seu amado.
- Milena!
Gritou de longe Edgar.
- Apressa-te, tenho algo para contar...
Milena contou em detalhes tudo para Edgar, o rapaz ficou transtornado e jurou lutar pelo seu amor.
- Edgar, vá até meu pai e peça-o minha mão em casamento!
Edgar já tinha investigado quem era o pai de Milena e resolveu contar a ela, o que o impedia de ir falar com seu pai. A jovem ficou desconsolada e decidiu fugir com seu amado; no mesmo dia voltou para casa, quieta e ouviu o pai contar empolgado sobre o rapaz que achara para casar com ela... Milena não suportou e chorando, contou ao seu pai que amava outro.
O coronel perguntou por diversas vezes, quem era, mas ela não dizia.
- Esta paixão desarrazoada tem de ver com essa sua demora de voltar para casa após seus passeios, não é mesmo?!  A partir de hoje, você não sai sem companhia, irá com uma dama de companhia e um capataz!
Milena nada pôde dizer, foi para seu quarto e enquanto chorava, ouviu pedrinha serem lançadas em sua janela, quando ela abriu, era Edgar, montado em seu cavalo, chamando-a para fugir com ele e ela aceitou... O capataz viu a fuga e os denunciou ao coronel. Durante a fuga, Milena apresentava-se cansada e enjoada, Edgar preocupado, resolveu parar para que descansassem.
O coronel seguiu as marcas da ferradura do cavalo de Edgar, ao passo que amanheceu dia e lá estavam, o coronel e seus capangas, aguardando os dois jovens despertarem.
Quando Edgar acordou, viu-se cercado e de imediato apanhou sua amada nos braço e a acordou lentamente:
- Acorda princesa! Acorda, desperte e venha a ter comigo a presença de seu pai e seus capangas...
Milena despertou e sentiu um aperto no coração, pois sabia que seu pai não perdoaria tamanha afronta. Etílio pegou-a pelo braço e pediu aos capangas que fizessem o que era de acordo a ser feito, a jovem entendendo o desejo de seu pai, largou-se das mãos do mesmo e deitou sobre seu amado... Ainda assim o coronel não hesitou e ordenou que executassem o jovem e que descartassem seu corpo no rio de seu rival, pai de Edgar.
Quando de repente:

- Eu estou grávida!
- Como assim?! Grávida? – Disse seu pai transtornado
- Sim.. Por isso também, suplico que o deixe vivo!
Mas essa declaração não foi suficiente, ouviram-se então disparos, e pássaros voaram...

A paisagem nunca mais foi a mesma...





                                                            Autora: Lorena.C.S.S


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014



       Ver-me-á


Que os lírios do campo a torneie, que o ouro cubra a tua casca tênue.
Que meus versos lhes deem vida, que a seiva faça-a viver ao adjacente ato de servir.
Não tenho prata, nem ouro,
Não tenho patas e nem couro... 
Tenho sombra  que a deseja como água fresca,
Tenho um dorso, sobre ele o peso do nada,
Tenho uma cor, penumbra, da cor vista pelos cegos,
Tenho desejos...
Os desejos não os conto,
Não insista, o mesmo afoguei em interrogações, vírgulas e pontos! Finais?
Não os ponho a derradeiro,
Você verá destes desejos eu me banhar como d'água quente do chuveiro,
Verme-á sonhar dentro de você...
Mas quanto ao magno ato de desvendá-los...
Ah...
Deixe-os para mim...

Autora: Lorena. C.S.S










A  carta da  sudade de um nordestino




Que sudade de ocê perssoinha,
Num viu e nem virá tamanho de sudade, haja quem venha achar.

Tumara eu um dia te encontre, num sou bom de prosa não, nem tão pouco de canturia,
mas tenho um coração grande... Bem a minha mãe dizia...

Por que exige de mim, bela Maria, que eu fale certo, de maneira cortês? 
Exige de mim de um jeito maneira, boa beca e belos carros?
Pudera, pequena Maria, o único trem que eu guiei foram cavalos!

Num conheço a cidade grande, acumpanho  minha vida e morte Severina.
Mas me bastaria um surriso teu minha  fronzinha, para esse  sudado cunhecer o mundo...

Ói  Mariazinha (se tua graça ainda for essa), 
Dispois que foi para a cidade grande, esqueceu de sua raiz, abandonou o teu amor...
Mas num te apoquente não, eu tenho sudade de ocê;

Ocê fartou meu coração de entendimento do homem da cidade,
 Pois... E num é? Aí só se busca herança, e nada, nada de paz, amor e felicidade!

Quem diria tu Maria!
Que ao vento e com os Óios cheios d'águas dizia:
"- Num vivo sem tu nordestino, quem diria sem tua poesia..."

Autora: Lorena.C.S.S



Amigos de verdade... O que podem eles fazer por você?...
Pudera eu ter palavras tão incríveis quanto aos mesmos para explicar o que são e fazem por mim... Me dão o riso frouxo, me dão a paz que me satisfaz, me enriquecem para dentro d'alma minha, fazem- se múltiplos e me multiplicam, rasgam meu silêncio, fazem do meu sangue um suor sagrado, me criam e me aturam... Criaturas, as crias que tu aturas, amigo de meu verso, fazendo de meu inverso uma linda contradição...

Loucos! Isso que sois, pois creio imensamente que somente vossos sentidos, sem sentido algum é que compreenderá esse verso...

Autora: Lorena.C.S.S